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sábado, 23 de fevereiro de 2013

A Rainha e Seus Reis de Barro


Com mais de 50 anos de carreira, a sanfoneira e cantora Marivalda Kariri tem sua vida transformada em filme.



Em 1957, uma das atrações da tradicional festa de coroação de Nossa Senhora do Carmo, na avenida Dantas Barreto, em Recife, era o grupo de meninas do hoje chamado colégio Bom Pastor. Na ocasião, elas foram apresentadas ao cantor e compositor Jackson do Pandeiro, responsável pelo show principal. No palco, o artista paraibano resolveu chamar uma das garotas para lhe acompanhar. Juntos, cantaram "O canto da ema" (de João do Vale, Alventino Cavalcanti e Aires Viana) e "Moxotó" (de Rosil Cavalcante e José Gomes).

Ao final, Jackson disse "você nasceu artista, vá brigar pelo seu espaço". Provavelmente, essa cena constará entre as mais importantes do filme "A Rainha e seus reis de barro", que pretende levar às telas a trajetória da sanfoneira e cantora Marivalda Kariri, uma das grandes vozes do Ceará e das poucas representantes femininas do forró pé-de-serra, bem como de seus colegas Messias Holanda, Zé de Manu e Pedro Bandeira. O projeto foi selecionado pelo IX Edital Ceará de Cinema e Vídeo 2011, da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult).

Marivalda, batizada Maria Valníria Pinheiro, tinha então 14 anos. De lá para cá são mais de cinco décadas de carreira, com discos e shows em várias cidades do País, além de parcerias com nomes de peso - entre eles o próprio Luiz Gonzaga, que ela conheceu durante turnê pela Amazônia, em 1976, quando o Rei do Baião também passava por lá.

O longa-metragem foi proposto pelos gestores do Museu e Casa de Cultura Marivalda Kariri, localizado no município de Milhã, que reúne objetos e artefatos relacionados à carreira da cantora, além de artigos do universo da cultura nordestina. "Em 2012 a Casa completa 10 anos de existência. Temos um acervo muito rico, de itens que colecionei durante toda a vida. Tem muita arte sacra, por exemplo, além de peças antigas, de valor histórico", explica Marivalda. Atualmente, o material passa por catalogação.

Hoje a Casa também é um Ponto de Cultura, e oferece atividades como aulas de música para crianças e adolescentes. "A partir de 2012 também trabalharemos com um grupo afrodescendente quilombola, a partir de atividades de resgate cultural", adianta Marivalda.



Símbolo

"A rainha e seus reis de barro" deriva de outro projeto, intitulado "No sertão do Ceará: Cinquenta anos de veredas e caminhos - Marivalda Kariri e convidados", que contemplou a realização de shows e a gravação de um DVD com a sanfoneira, Messias Holanda, Zé de Manu e Pedro Bandeira. O registro, que tem recursos do Fundo Estadual de Cultura (FEC), da Secult, será finalizado em janeiro próximo. "Foi um projeto em comemoração aos meus 50 anos de carreira", ressalta Marivalda.

Segundo a sanfoneira, o nome do filme foi escolhido por conta da força simbólica do barro no universo sertanejo. "No sertão a gente nasce da terra, ela absorve a água e vira obra de arte", resume. O filme vai começar com uma animação com peças de barro. "Vamos confeccionar, junto com as crianças do Ponto de Cultura, brinquedos típicos de nossa infância, nos anos 40 e 50, quando fazíamos casinha, panelinha e outras peças de barro", recorda Marivalda.

O documentário vai misturar imagens reais de apresentações e de arquivo dos quatro músicos (daí "a rainha e seus reis") e cenas de ficção, com atores interpretando-os na juventude. "Nossa história é muito rica. Eu, por exemplo, passei um tempo vivendo na Amazônia, cantando nos garimpos. Tive uma experiência muito bonita junto aos migrantes do Nordeste, como uma espécie de porta-voz cultural, já que muitas daquelas pessoas nunca puderam voltar a sua terra", lembra a cantora.

Patrimônio humano

Hoje com 70 anos, Marivalda ainda carrega a sanfona pelos palcos. "Se for contar mesmo, são quase 60 anos de carreira. Com 10 anos eu já animava festas na paróquia da cidade, acompanhada do trio zabumba, sanfona e triângulo. A alma da gente morre artista, eu, Messias e os colegas ainda ficamos felizes em juntar o povo para ouvir música", comemora a artista.

No início, sem experiência ou acesso ao mercado fonográfico, Marivalda teve dificuldades. Longe das oportunidades de se inserir, decidiu dedicar-se ao casamento e aos filhos. O primeiro disco, "Você pode ficar rico na zueira", veio apenas em 1975 - quase vinte anos após subir ao palco pela primeira vez - por meio de contrato com a gravadora RGE/Fermata. Tornou famosas músicas como "Peso da seca", "Tributo ao Rei do Baião", "Cariri", "Vozes da seca", "Forró de vaquejada", "Balance eu", "Graça alcançada", entre várias outras.

Adriana Martins
Repórter do "Caderno 3" do Diário do Nordeste


Assista ao Trailer do Longa-Metragem "A Rainha e Seus Reis de Barro"...

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